quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Na ponta do dedo, por Afonso Camões


Vão sair-nos caros os 2 mil milhões cortados à escola pública, nos últimos anos. E muito cara, também, a incapacidade dos nossos principais partidos em se entenderem sobre uma estratégia nacional para a educação e a inovação, os dois mais baratos investimentos em futuro.

A geração Google, que passa a maior parte do seu dia a comunicar e a interagir com o Mundo, encontra hoje na sua escola um modelo de desigualdades, não comunicativo, que fala muito e ouve pouco. E, no entanto, havemos de concordar que a educação é a pedra basilar da civilização, da competitividade e do sucesso. E que, com economia dentro, é nos domínios da educação e inovação que se disputam, cada vez mais, os campeonatos europeu e mundial entre povos.

Somos educados para acreditar no progresso permanente, num futuro melhor que todo o passado. Mas não é bem assim. E a história está pejada de casos de grandes retrocessos - até em potências consideradas imbatíveis, que entraram em declínio - a maior parte dos quais devido à cegueira de gerações de governantes que impediram ou asfixiaram a inovação. Exemplos?

Ainda Vasco da Gama não dobrara o Cabo das Tormentas e já a armada imperial chinesa andava pelas costas do Índico, carregando barcos quatro vezes maiores que a nossa nau São Gabriel. Em 1479, porém, a administração imperial, temerosa do crescente poder dos mercadores, queimou as cartas de navegação, proibiu o COMÉRCIO  externo, virou-se para a agricultura e construiu a grande muralha atrás da qual a China - que já inventara a bússola, o papel e a pólvora - se fechou ao Mundo durante séculos. Até há pouco.

Ainda que, nominalmente, a economia europeia seja maior que a dos Estados Unidos, as 10 maiores empresas do Mundo são americanas e quase todas na área da nova economia digital. Apple, Google e Microsoft são as três primeiras, Facebook e Amazon são a sexta e sétima.

Há 20 anos, sete das maiores empresas mundiais eram japonesas. Hoje não há nenhuma entre as primeiras 10. E das 100 empresas de criação recente, graças ao capital de risco orientado para a inovação, que superaram os mil milhões de euros de valor, 68 estão nos Estados Unidos, 25 na China e apenas oito na Europa.

Está em marcha uma grande revolução, a revolução digital, e a Europa a ficar para trás. E nós com ela. É uma revolução de magnitude comparável à Revolução Industrial. Mas revela um dado inquietante: a velocidade a que progride e a lentidão da Europa em acompanhá-la. E nós com ela... há quatro anos a desdenhar do Magalhães.

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